segunda-feira, 12 de julho de 2010

"Olhai os lírios do campo"

Hoje pela tarde eu joguei muita coisa pro alto. E saí com a mochila nas costas, carregando lágrimas mais frias e pesadas que a chuva que caía sobre mim. Me molhei toda caminhando rua após rua, e meu preferido vestido quadriculado estava grudado em mim. As pessoas na rua reparavam em meu nariz e olhos avermelhados.
Entrei num ônibus e esqueci de qualquer coisa, das pessoas, da vida. Eu só conseguia chorar. Chorar como só eu sei. E em minha distração uma mulher de blusa amarela se aproximou de mim. Pediu que eu não chorasse, pois meus problemas com o tempo iriam se resolver. E como um revés, passei a escutar dela o que eu costumava dizer às pessoas.
A mulher de blusa amarela fez tudo o que eu teria feito. Disse tudo o que eu teria dito, e com muita simplicidade de alma. Mas eu não disse a ela que já sabia de tudo aquilo. Não disse a ela que conhecia de cor aquelas palavras. Deixei apenas que ela cumprisse sua missão. De ser boa para alguém, de tentar ajudar alguém. Desci do ônibus sem mais lágrimas, para que ela tivesse a certeza de que seu gesto valeu a pena. Mesmo com minha dor, me fez bem ter feito o bem.

domingo, 4 de julho de 2010

Eu achava que existiam chaves para todas as portas saída para todos os caminhos desculpas para todas as farsas espectadores para toda comédia sol todos os domingos abrigo para todas as famílias analgésico para todas as dores ...eu realmente achava que o mundo podia ser da cor que eu desejasse, e que o céu um dia cansaria de ser azul e seria violeta...e que as pessoas cansariam de ser adultas e voltariam a ser crianças, mas aí quando me dei conta de que simplesmente achar e desejar não era suficiente, o tempo já havia passado, e todas as minhas convicções ficaram gurdadas numa caixinha de música numa prateleira qualquer de uma estante qualquer de um tempo que não volta mais.

sábado, 26 de junho de 2010


É a quarta vez que tento escrever algo sobre esse tema e não consigo. Escrevia algumas coisas e deletava, não era eu naquelas palavras, ou as palvaras não saiam ordenadas, não sei. Acontece que na última tentativa tive um insight. O título permanecia me fitando,na verdade, me cobrando a constatação. Não posso escrever sobre coisas de quando eu era criança, simplesmente porque aqui dentro (de mim), ainda me sinto uma criança boba, tola e ingênua. Que espera coisas das pessoas e brinca com o papel e caneta. Como achar que cresci se conservo comigo os mesmos dedos infantis, o sonho de um dia ser alguém e de que gostem de mim? Como não me sentir infantil perto das pessoas enormes que me sufocam, cobram e ironizam minhas tentativas? Me diz porque devo me considerar um adulto ou achar que a infância passou se só me sinto seguro quando minha mãe diz "Está tudo bem!". Se me sinto incompetente para tomar alguma decisão ou ser responsável pela minha própria existência? E se o meu horóscopo cobra que não me vitime, não me vitime, não me vitime - como um refrão do Dominó. E o que eu quero de todos é colo e um afago na cabeça. Se não penso no futuro e minto para mim mesmo que ele nunca há de chegar, enquanto o presente sorrateiro vai destruindo com minha pele e fígado. Não há como falar de algo que ainda não se findou, falar como se fosse um tempo que não existe. Sendo criança eu digo: é dificil crescer!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Por que raios eu não fugi dessa igreja?

Por que raios eu não fugi dessa igreja?

Minha maquiagem sempre fica meio mal feita. Logo, nunca serei uma mulher plena. E também raramente me sinto bem usando saltos. E me falta a paciência para depilar a perna com cera. É que não me lembro de terem me pedido pra ser mulher. Já me ensaiaram a beleza, já me disseram a feiúra, já me fizeram a tristeza. E, no mais, eu sempre estive confortável sendo menina, aspirante a tola, tola a aspirante. A mulher em mim só aparece de vez em quando. Pra pedir dinheiro, pra pedir um pouco de amor.
Bem, eu não tenho dinheiro, eu não tenho amor. Sugeri que ela pedisse o divórcio e me deixasse em paz. Ela disse que só iria se dividíssemos os bens, que era seu direito, que metade de mim pertencia a ela. Quer que eu vá à falência, mulher? Então não nos divorciamos. Ela blablablablando que quer porque quer uma casa mais organizada, os pratos limpos, o chão varrido. Eu querendo meus livros, minha rede, meu futebol. Cerveja não, que dá barriga

terça-feira, 27 de abril de 2010

O que eu achava. O que aprendi. E que foi importante. 'Tudo-ao-mesmo-tempo-agora'

Quando eu era pequena eu achava que quando crescesse seria tudo diferente, que eu pensaria coisas diferentes, teria sentimentos diferentes, achava que o medo de coisas bobas ia embora, que não lembraria de um bando de coisas que me aconteceram quando era criança. Achava que perdoaria meu pai com o tempo, achava que seria mais segura e menos caótica, que a relação com a minha mãe melhoraria, que a calmaria um dia fosse tomar conta da minha ansiedade-gastrítica.
Acreditava que ia precisar de todas aquelas aulas infadonhas das matérias mais ínuteis, que as coisas que aprendi obrigada pela 'responsabilidade de ir a escola estudar todo dia' um dia iam significar alguma coisa para as dúvidas que já tinha e para as muitas que viriam ainda. Achava que estava sendo preparada, mesmo que naquele momento não fizesse sentido nenhum.
Como eu me enganei. E como sou feliz por ter me enganado para sobreviver aquelas obrigações. A coisa mais útil que me fizeram na escola, a coisa que realmente foi um divisor de águas pra mim, foi ser alfabetizada. Ler e escrever foram os combustíveis de todos esses anos - e tropeços sem sentido -, porque o meu trabalho não depende de nada que aprendi na escola, aprendi a fazer o que faço lendo sozinha, pesquisando com a minha estratégia no meu tempo, e foi a coisa mais prazerosa e intensa que estudei na vida. Porque o que eu 'estudo/ouço' na universidade não contribui em nada no meu trabalho, e não me faz querer mudar de profissão também. Porque nenhum professor que tive (e sim, eu tive bons professores) me ensinou a escrever para acalmar a alma, na escola ninguém me disse que a imaginação e o devaneio constante eram a única saída, porém o meu avô sim, quando pequena certa vez disse-me que o melhor de brincar sozinha -eu era filha única- era a liberdade de criar a brincadeira a meu modo. Sábio meu avô que era semi-analfabeto.
Porque crescer não me fez uma mulher mais forte e segura. Eu ainda tenho um bocados daqueles medos de criança e alguns outros que foi acumulando com o tempo. Ainda sinto o mesmo rancor pelo meu pai, a mesma estranheza pela minha mãe e quase nunca uso o que aprendi na escola. Porque o mais importante que acumulei na vida foram os livros que li, os autores que me encantaram, os lugares que conheci, os amigos que tive, as conversas esclarecedoras na madruga me ensinaram mais sobre sobrevivência do que anos de estudo do corpo humano.
Ter entrado no Grêmio estudantil na adolescência me ensinou mais sobre direitos e deveres, dignidade, projetos e participação política do que todas as aulas de educação e cidadania e trabalhinhos sobre a constituição que fiz na vida. Eu tive a oportunidade de entender o que era pobreza e desigualdade dando aula de artes numa escola comunitária de uma invasão (sem ter nenhum diploma ou preparo para isso), entendi as minhas obrigações eleitorais conhecendo a divisão do poder público por causa do grêmio e não por causa de nenhuma visita de urna eleitoral na minha escola.
Entende o que quero dizer? Que enquanto eu achava que estava sendo preparada para a vida, eu estava só me alienando, descobrindo coisas pela metade, conhecendo superficialmente coisas e pessoas, tendo uma visão genérica do mundo e suas relações culturais. O que foi muito importante para minha preparação para a vida adulta, e isso é muito particular, foi conhecer gente; conhecer onde vivem, os problemas e as dificuldades que enfrentam; foi ter vivido o preconceito, ter entendido o que era errado: errando; foi ouvir pessoas e seus devaneios, sentimentos, histórias, loucuras; foi ter doado tempo da minha vida para entender o humano. Para parar de acreditar no que aprendi na escola, que o ser humano é "um animal membro da espécie de primata bípede Homo sapiens" e só isso.

*opinião totalmente pessoal.

sábado, 24 de abril de 2010

A que conclusões... encontramos conclusões


Parei para pensar e decidi cair fora. Seguindo a linha de pensamento da Flávia, cair fora quando se pensa é a melhor solução. Não pretendo traçar aqui no último texto sobre "encontros e desencontros" nossas teorias sobre essas caualidades, acidentes, fatalidades. Tampouco pretendo resumir o que discutimos ou ser repetitivo. Leiam os textos anteriores e se divirtam com as disparidades das nossas mentes. Quatro: insanas: comuns. Porque o que é o encontro senão um desencontro inesperado. Encontros tristes, doloridos, com amargura que beira a vingança. Ou aqueles felizes ao som de uma boa música, desejo de sexo escorrendo pela boca. O encontro despesperadamente esperado que nos faz desencontrar com aquilo que é mais essencial em nós, nos tornando inexistente. (Quero Sartre na minha mente! Urgente!). Desencontrar, desencontrar, desencontrar.... Essa foi a proposta! desencontrar para encontrar algum ponto de intersecção. E se não houver que seja apenas um feliz desencontro!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"entre tantos planos, entre tantos outros"

Eu já tive tantos planos, sonhos e desejos tão egoístas. Eu já achei que tinha que esperar o amor bater na cara e me tirar da inércia, virar minha vida de ponta-cabeça. Eu achei que tinha que ser aceita e aceitar o outro do jeitinho exato que ele era. Que eu tinha que fazer valer a pena, eu já achei tanta coisa.
Eu quis achar um amor avassalador pra viver "pro-resto-da-vida", tentando um 'felizes-para-sempre' moderno, e algumas vezes até me forcei a este impossível.
Depois de muito tempo e alguns amores, eu reconstrui essa minha ideia de encontro. Entendi que não é inteligente ficar sentada esperando o amor passar e me dar um tapa na cara, me tirar da inércia e virar minha vida de ponta-cabeça porque a minha vida vale mais. Bom mesmo é quando o amor surge no sútil do de repente, quando ele se encaixa no agora e vai ocupando os espaços, preenchendo os vazios e alinhando as ideias. Hoje quero e tenho um amor claro, são, saudável e livre. Eu entendi que ser livre e consciente da liberdade de ser quem é e ceder quando dá, vale mais do que ter borboletas voando no estômago e faz muito mais sentido.
Compreendi que não há a pessoa certa sem defeitos ou cicatrizes pr'eu me juntar, e que eu sou assim tão imperfeita como ela, porque ambos vivemos antes do nosso encontro e só quem vive tem marcas, cicatrizes e passado. E o passado nem sempre é ferida aberta cutucada com canto de unha suja, pode ser um banco de dados de lições de 'como ser mais feliz na próxima', pode ser menos dolorido, traumático e trágico. Pode ser lembrança apenas de encontros anteriores que foram o que deram pra ser e por isso mesmo não foram ireais como eu pensava que os encontros tinha quer ser antes.