sábado, 6 de junho de 2009


Te reconheci pela mochila, repleta de broches modernos e criativos. Amei tanto os broches: os modernos e os antigos. Impulsivo, atravessei a rua e cheguei perto, não sorrateiramente como desejava, não instintivamente como previra. Cheguei como um derrotado mesmo, como alguém que te quis e não te teve, como alguém que suportou calado as investidas de outrem e o pedido deste para tirar o time de campo. Queria te dizer isso: perdi não por timidez ou falta de iniciativa, foi covardia apenas. A serpente que atravessa as minhas veias, fraca e faminta, me detém. Eu te assisti como voyeur, e te comi com madonnas, suelis, genis. Te comi puta, te comi homem. Te comi de diversas formas e maneiras. Com lábios, dentes, esperma. Com mãos risquei chão, cimento e cal. Mas o pano caiu, o ato finalizou e desapareceste como antes, entre corredores lúgubres e frios. Não te esperava novamente em mim. Não te esperava aqui. E a tua presença desacelerou meu processo, impediu minha iniciativa. Me perdi em teus olhos, em suas mãos. “Chegastes como um dia radiando luz” num peito que era só solidão. E criei novos amores para nós dois, esqueci as antigas paixões, esqueci o que realmente importava. Tirei a roupa. Não houve sexo, não houve mãos, não houve minha barba na tua nuca, teus olhos em meus olhos, tão iguais. Houve melanina e braços fortes para ti. Melanina já gasta, braços-vassouras. Transformou-se em troféu, revelou-se outro. E eu te queria em cada respiração e em cada poema declamado no pé do ouvido. Era um esperar-observar que me atrasou. Segurava suas mãos e pedia: te amo, me ame. Minha vontade era te cobrir com o manto e te tele transportar para longe, para dentro de mim. E a tua ausência não ausentou minhas vontades, apenas adormeceu. E pela primeira vez quis ser calhorda, quis ser canalha, quis te querer enquanto não podia, quis te morder, quis te pegar te devorar. Com mãos, unhas e estomago. Comer-te, entende? Mastigar-te! Saborear o que apenas outra boca saboreia.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

à quem tem interesse pelo nós.

Olha eu não sei exatamente até onde vai seu interesse, mas com certeza ele não suprirá minhas expectativas, porque eu sempre fui inundada delas.
Ninguém é bom para ela, ninguém é suficientemente bom, ela precisa de muito - que tem que ser dado na sutileza do pouco para não assustá-la - sabe, ela não admite mas morre de medo, e eu também, morro com o medo dela, mas quem não morre por um medo assim né?
Você tem que saber, é uma informação muito importante, nós quatro temos muito medo, por trás dessa coragem de se expor, e as vezes até medo de ter medo dela. Falo por mim - achando que eles compartilham dessa dor, pelo que os conheço- a gente só não sabe ser de outra forma, não é pra entender porque temos essa conduta, apenas a respeite, você sempre foi esperto. O pulo do gato é realmente esse, que eu te confesso sem fazer mistério algum, respeite.
Respeite a nossa necessidade por palavras, ditas ou escritas, o nosso interesse pelo outro, pela dor do outro, o amor do outro, a entrega alheia, o teatro. Respeite a arte que surge da gente, sai da gente, compõe a gente, porque ela é tão sagrada, tão intensa que até nós mesmo tememos a ela. Isso mesmo respeite o nosso medo, porque a gente - pelo menos eu - ainda não decidiu se é ruim ou bom temer assim. Respeite nosso devaneio, solitário ou coletivo, nossos picos de alegria e tristeza, e principalmente não tente nos enquadrar em um diagnóstico psicótico.
Entenda não é uma elevação, uma superioridade, é só um jeito diferente de sentir, de expressar, de entender e principalmente de existir. Como uma filosofia de vida que não se escolhe, espero que eu esteja sendo clara, não há algo mais, algo que nos diferencie de você, só que o nosso extremo vai além...
Você pode me perguntar se pode um dia ser assim, um de nós. E eu meu querido só posso te aconselhar a não ser. Porque é um misto de sentimentos que se fundem e se multiplicam, que crescem como erva daninha dentro da gente, são tantos momentos bons, intercalados com momentos terríveis, tanta dor no nascer, no compor no parir das palavras que talvez você não esteja preparado. Talvez nem nós estejamos. Talvez o tal do deus tenha feito assim, sem esperar, escolhendo pessoas aleatoriamente, como um sorteio.
Não há preparação alguma, não há um tempo certo, um momento que a ficha cai, você não espera apenas sente, sente muito, sente pra sempre. E eu posso dizer que sentir doi. Que tem um troço que fica angustiando a gente que não passa, que não tem jeito, e sangra por dentro, faz tremer, rir, chorar. Faz que nós até pareçamos diferentes.
Faz com que pareça que queremos mesmo ser essa metamorfose-em-contrução-maluca.

P.s. sem revisão. Por nós quatro.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

À um super-herói velho e cansado

Antes de decidir te escrever eu pensei muito se deveria, afinal talvez você nunca venha a ler essa carta, talvez não, você nunca lerá.
Você não sabe, não soube de tantas coisas em minha vida, e hoje eu já sou uma mulher. Eu vejo sua cara de assustado quando você se dá conta que eu não sou mais uma criança que você carregava no colo, na verdade eu só sei que você me colocava no colo porque vejo as fotografias, eu gosto de olha-las e ter a certeza de que um dia você me deu colo, seu colo. Não foi quando eu mais precisei, mas me deu e isso me conforta um pouco.
Nossa relação nunca foi das melhores, nunca vivi no mesmo lar que você, ah e como eu queria, como eu sentia inveja da Rafalela porque ela tinha um pai, eu também tinha, mas o meu pai era também pai dela, era também pai de mais 8 crianças e eu me sentia a mais feinha, a mais sem graça, porque eu não me lembro de nenhum elogio vindo de você, eu era só uma uma criança gordinha e sem graça.
Mas apesar disso a infância foi o periodo em que tinhamos a melhor relação, férias era sempre uma delicia,era mesmo muito bom, mesmo quando eu chorava enlouquecidamente querendo voltar pra casa com saudade de mainha.
Você me deu muito, me deu a oportunidade de estudar nas melhores escolas, me deu conforto, roupas legais, financeiramente falando eu não tenho do que me queixar, em quanto você pôde você me deu e eu sou muito grata, mas algumas vezes eu desejei que você não me desse dinheiro algum, mas me desse um colo, me desse de fato um pai, aquele pai...PAI, sabe?
Não você não sabe, porque você também não teve um desses.
Eu precisei muito de você, e hoje eu tenho certeza que você me desconhece, você não sabe nada sobre mim, talvez você só saiba que é meu pai.
Ah meu velho, machucava tanto quando você não atendia meus telefonemas, machucava quando você sumia e voltava com um convitizinho prum almoço, você tentava subornar seu filhos sabia? Você tentava nos sobornar com um almoço num restaurante legal e uma graninha, mas eu não ia pelo almoço nem pela grana, eu ia porque eu adorava dizer na escola: HOJEU EU VOU ALMOÇAR COM MEU PAI, eu adorava dizer pra mim mesma...eu adorava
Mas você também não sabe disso.
Ah meu super-herói velho e cansado, a vida foi tão generosa com você, mas ela também foi muito cruel, e quando é que você vai aprender a ser humilde?
E quando meu pai? Quando é que a gente vai sentar numa mesa pra conversar? Qunado você vem jogar sinuca comigo?
Qual será sua reação ao me conhecer?
Eu preciso de contar um segredo, um segredo que só você não sabe, e quando eu vou te contar?

terça-feira, 2 de junho de 2009

Á quem precisa parar de olhar o umbigo

Ouvi falar que você anda reclamando por aí, xingando o governador, acusando o prefeito e querendo prender seu chefe. Louco isso seu de sempre reclamar de tudo, de ver defeito em todo mundo, não estou defendendo ninguém dizendo isso, acho também que tem um monte de coisa errada por aí, mas tento a dar a César o que é de César. Criticar todo mundo sabe, graças à liberdade de expressão, todo mundo pode, eu tento ter uma conduta diferente, você sabe, tento fundamentar melhor minhas críticas, elogiar quem merece e fazer a minha parte e você o que tem feito além de reclamar?
Você nunca deu espaço para conversas mais profundas sobre isso, acho que esse é um bom momento, me diz o que você tem feito pra cumprir o seu papel? Como você faz sua parte? Não faz né? Lembro bem de você sempre comentar que não há nada a fazer como civil, que não há como competir com toda a corrupção, e agora eu te pergunto e é por causa disso que é correto unir-se a ela? Soube que você faz parte daquele grupo de pessoas que pede isenção de coisas que pode pagar, e até mesmo de coisas que não precisa, também soube que você se inscreveu em todos os programas do governo que conseguiu, que recebe 120 reais para complementar a renda dos seus pais que beira os 2.500 sem o seu salário de estagiário. Fala vai, como você consegue? Como fica a sua consciência? Da nossa amizade você não aproveitou nada?
Se bem me lembro você acompanhou o meu “desabrochar político”, ouviu e até participou de muitas de minhas conversas sobre “fazer a diferença”, sempre criticou muitas condutas políticas, e agora faz igual? E agora faz pior? Vivendo na falsa moral você não pode exigir nada de ninguém.
Fez-me rir com a última carta, aquela que você me mandou em anexo uma reportagem de jornal, falando que o governador vai reduzir os cargos comissionados para polir a máquina pública, dizendo que você ia perder o benefício de receber um bom salário trabalhando, por conhecidência, no horário em que você estava na universidade. Lembro que você aproveitou para reclamar que o prefeito também pisou no seu pé, quando tirou os estagiários e abriu concurso para professor das escolas municipais e que seu chefe... te obrigava a fazer o seu relatório mensal do estágio, mesmo quando não dava as caras no trabalho um mês inteiro. POUPE-ME!
Você perdeu a capacidade de discernir o que é certo e o que é errado, como um bando de gente. Vejo todos os dias, aos montes, pessoas como você na rua. Jogando copo no bueiro e mais na frente reclamando da água empoçada, pessoas que reclamam dos ônibus cheios e velhos, porém, quando sentam, viram a cara pra janela para fingir que não vêem as idosas em pé no meio da multidão, passam o tempo, arrancando os protetores do banco onde estão sentado com as unhas, como um bicho. Gente que sempre reclama, como se no fundo tivesse reclamando pra si próprio, como se quisesse voltar a repreensão pra si. Gente que quer mudança e não muda. Gente que quer apoio e não apóia. Gente como você, “indignados sem-causa”, sem propósito, sem ideia ou ideal, gente que nem sabe o que é que o vereador faz, do que o prefeito ou o governador são responsáveis, exigindo indiscriminadamente sem saber exatamente pra quem.
Por quê?
Porque é o que todo mundo faz, porque é pra onde a maré leva, porque não se perde nada com isso. Conte-me aí, você já mudou alguma coisa agindo dessa forma? Você já se deu bem por mérito próprio? Meu amigo, sei que essa é a minha carta mais cruel, sei bem que dói em você, mas acredite, dói em mim o dobro. Sempre doeu em mim o dobro essa sua conduta. Dói porque você teve as mesmas oportunidades que eu de conhecimento político e ainda sim não aprendeu nada, dói porque acaba sendo uma luta vã competir com você e todo o seu time de desesperançados, dói porque não é justo, dói também porque não é saudável para o país.
Não quero com esse discurso meter você num partido, numa eleição de líder comunitário ou num sindicato, tão pouco quero que você se dê mal na vida, acho que você entende, quero que você conquiste sua vida sozinho e deixe a ajuda do governo para quem precisa, os cargos comissionados para quem tem instrução para exercer, a crítica sem fundamentos para quem não tem o que fazer, entende? Eu sei que você pode ser mais e é só isso que eu exijo de você caráter, integridade, decência..., é, um pouquinho mais disso tudo.
P.S. nunca mais me mande uma carta tão ridícula.

Da sua indignada e ainda esperançosa companheira.

domingo, 31 de maio de 2009

Arcaju, 27 de junho de 2008

Essa è a segunda carta que te escrevo em uma semana. O fato é que estou lendo as correspondências da Clarice LIspector e me distraio. Me dá uma súbita vontade de escrever. COmo se fosse uma ânsia passageira, que há d epassar.
A minha vida anda um verdadeiro turbilhão, e não sei como explicar nada. O fato é que você está em meus pensamentos, e as vezes te adjetivo mais que o necessário.
Ontem, tive um dia de cão. me sinto bastante só e abandonado. Andei fazendo algumas burradas este ano e infelizmente não há amigos para me acolher como antigamente.
Ora, a coisa está clara, mas não pode ser explícita. Nesse sofrer, lembro muito da sua relação com o iluminado do vácuo - talvez seja o cabelo, talvez não - é uma dor verdadeira que me causa.
Há muita hipocrisia nesse mundo e nessas paredes que me cercam. È engraçado, todas as paredes são repletas de hipocrisia. Queria me livrar das paredes. Lembra-se da história dos azulejos? Aqui não tem azulejos! Na verdade aqui só tem interesses postos e repostos em roda. Preciso urgentemente que leia essa carta e não compreenda bulhufas.
Às vezes eu sinto que você está mais perto que o Deyvid, a Carla, a Mayara e o PK. Parece estranho e um tanto dramático, mas sei que via e mexe, entre uma fodida e outra, lembras desse amigo ingrato.
Numa carta que acabo de ler da Clarice, ela diz que não aguenta mais as pessoas, inclusice ela mesma. Acho que estou assim. Não suporto o teco-teco dos saltos scarpan, muito menos a fala rouca da prendada politicamente. Para ser sincero, outro dia me peguei sendo Carla. Se vocês soubessem o quanto me marcaram. às vezes aparecem chagas profundas.
Quero encher a sala de almofadas e passar a tarde contemplando a prateleira de livros,
Aqui existe um cachorro de lata, sabia? As pessoas são tão diferentes ao ponto de se parecerem. Acontece de um dia ou outro me pegar conversando com uma pessoa crente que é outra. Te juro que é uma confusão repugnante.
posso falar de mim?
Estou gostando de alguém que não merce ser gostada por ninguém. Alguém insensível a ponto de não se assumnir como tal. Esse alguém é tão diferente de mim, em cor, em tamanho e jeito, e ao mesmo temp é tão igual. A única coisa que ainda consigo arrancar-lhe é o despreso e palavras vis. Malditas palavras mortíferas. Ferem! Palavras ferem!Há um cheiro de tinta fresca e UJS nas paredes dessa casa, Aqui, tudo é bom e parece delírio. Amiga, tens razão "A Maravilha do mundo é o negro

p.s: Acaba de bater na porta uma mulher. Era uma senhora com as pernas cheias de varizes e implorou para fazer uma faxina por R$20,00 porque veio à Aracaju buscar os netos e precisava voltar para Alagoas. ELa chorou e estava desesperada. E o detalhe mais chocante: ela se parecia com minha avó.