terça-feira, 30 de março de 2010

Que ao menos seja doce.

Tem um tempo que eu saio de casa torcendo pra te encontrar em algum ônibus, anciosa pra saber o que ambos vão dizer sobre a distância do desencontro. Um amigo próximo seu me relatou que eu não vou conseguir te encontrar num ônibus porque você ultimamente está motorizado, e pra me confortar disse-me que você estava bem. Será que conforta? Saber que você está bem, mesmo estando mal comigo?
Desde que voltei a rotina da universidade, torço para o contrário. Não quero te encontrar em nenhum corredor por aí e ganhar de você um oi superficial. Maluquice minha eu sei. Não querer o possível de agora tendo vivido o inatingível de antes. Entenda que quando eu não te encontro - eu não me desencontro de você - simplesmente não te vejo. E se eu não te vejo eu guardo o desencontro de alguns meses atrás na cachola e vou vivendo a vida sem os nossos rotineiros encontros de antes.
Eu tive que reaprender a andar segura nos lugares que frequentamos juntos, reaprender a olhar para os lados sem sentir ausência, comprimentar seus amigos sem pesar. Para não dar a entender que eu estive sofrendo mesmo que isso esteja tão claro.
Desencontrei de você mais uma vez, não contrariando as expectativas alheias de que você me decepcionaria. Essa minha mania de pagar pra ver, da qual não me arrependo. Foi bom. Foi doce. E depois do texto do Caio Fernando Abreu é tudo que me vale dos encontros e desencontros dessa vida, foi doce.


“Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.”

Caio Fernando Abreu

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