terça-feira, 2 de junho de 2009

Á quem precisa parar de olhar o umbigo

Ouvi falar que você anda reclamando por aí, xingando o governador, acusando o prefeito e querendo prender seu chefe. Louco isso seu de sempre reclamar de tudo, de ver defeito em todo mundo, não estou defendendo ninguém dizendo isso, acho também que tem um monte de coisa errada por aí, mas tento a dar a César o que é de César. Criticar todo mundo sabe, graças à liberdade de expressão, todo mundo pode, eu tento ter uma conduta diferente, você sabe, tento fundamentar melhor minhas críticas, elogiar quem merece e fazer a minha parte e você o que tem feito além de reclamar?
Você nunca deu espaço para conversas mais profundas sobre isso, acho que esse é um bom momento, me diz o que você tem feito pra cumprir o seu papel? Como você faz sua parte? Não faz né? Lembro bem de você sempre comentar que não há nada a fazer como civil, que não há como competir com toda a corrupção, e agora eu te pergunto e é por causa disso que é correto unir-se a ela? Soube que você faz parte daquele grupo de pessoas que pede isenção de coisas que pode pagar, e até mesmo de coisas que não precisa, também soube que você se inscreveu em todos os programas do governo que conseguiu, que recebe 120 reais para complementar a renda dos seus pais que beira os 2.500 sem o seu salário de estagiário. Fala vai, como você consegue? Como fica a sua consciência? Da nossa amizade você não aproveitou nada?
Se bem me lembro você acompanhou o meu “desabrochar político”, ouviu e até participou de muitas de minhas conversas sobre “fazer a diferença”, sempre criticou muitas condutas políticas, e agora faz igual? E agora faz pior? Vivendo na falsa moral você não pode exigir nada de ninguém.
Fez-me rir com a última carta, aquela que você me mandou em anexo uma reportagem de jornal, falando que o governador vai reduzir os cargos comissionados para polir a máquina pública, dizendo que você ia perder o benefício de receber um bom salário trabalhando, por conhecidência, no horário em que você estava na universidade. Lembro que você aproveitou para reclamar que o prefeito também pisou no seu pé, quando tirou os estagiários e abriu concurso para professor das escolas municipais e que seu chefe... te obrigava a fazer o seu relatório mensal do estágio, mesmo quando não dava as caras no trabalho um mês inteiro. POUPE-ME!
Você perdeu a capacidade de discernir o que é certo e o que é errado, como um bando de gente. Vejo todos os dias, aos montes, pessoas como você na rua. Jogando copo no bueiro e mais na frente reclamando da água empoçada, pessoas que reclamam dos ônibus cheios e velhos, porém, quando sentam, viram a cara pra janela para fingir que não vêem as idosas em pé no meio da multidão, passam o tempo, arrancando os protetores do banco onde estão sentado com as unhas, como um bicho. Gente que sempre reclama, como se no fundo tivesse reclamando pra si próprio, como se quisesse voltar a repreensão pra si. Gente que quer mudança e não muda. Gente que quer apoio e não apóia. Gente como você, “indignados sem-causa”, sem propósito, sem ideia ou ideal, gente que nem sabe o que é que o vereador faz, do que o prefeito ou o governador são responsáveis, exigindo indiscriminadamente sem saber exatamente pra quem.
Por quê?
Porque é o que todo mundo faz, porque é pra onde a maré leva, porque não se perde nada com isso. Conte-me aí, você já mudou alguma coisa agindo dessa forma? Você já se deu bem por mérito próprio? Meu amigo, sei que essa é a minha carta mais cruel, sei bem que dói em você, mas acredite, dói em mim o dobro. Sempre doeu em mim o dobro essa sua conduta. Dói porque você teve as mesmas oportunidades que eu de conhecimento político e ainda sim não aprendeu nada, dói porque acaba sendo uma luta vã competir com você e todo o seu time de desesperançados, dói porque não é justo, dói também porque não é saudável para o país.
Não quero com esse discurso meter você num partido, numa eleição de líder comunitário ou num sindicato, tão pouco quero que você se dê mal na vida, acho que você entende, quero que você conquiste sua vida sozinho e deixe a ajuda do governo para quem precisa, os cargos comissionados para quem tem instrução para exercer, a crítica sem fundamentos para quem não tem o que fazer, entende? Eu sei que você pode ser mais e é só isso que eu exijo de você caráter, integridade, decência..., é, um pouquinho mais disso tudo.
P.S. nunca mais me mande uma carta tão ridícula.

Da sua indignada e ainda esperançosa companheira.

2 comentários:

  1. Pois é, e o pior é que destinatários como esses são mais comuns do que podemos imaginar e remetentes desta estirpe cada vez mais raros...
    Ê Brasil...

    E enquanto isso o Air France cai justamente no Ano da França no Brasil.

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  2. Estou muito orgulhosa desse seu texto. Ele é cheio de perguntas. Mas perguntas que só podem ser feitas por quem sabe a resposta.

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