quinta-feira, 4 de junho de 2009

À um super-herói velho e cansado

Antes de decidir te escrever eu pensei muito se deveria, afinal talvez você nunca venha a ler essa carta, talvez não, você nunca lerá.
Você não sabe, não soube de tantas coisas em minha vida, e hoje eu já sou uma mulher. Eu vejo sua cara de assustado quando você se dá conta que eu não sou mais uma criança que você carregava no colo, na verdade eu só sei que você me colocava no colo porque vejo as fotografias, eu gosto de olha-las e ter a certeza de que um dia você me deu colo, seu colo. Não foi quando eu mais precisei, mas me deu e isso me conforta um pouco.
Nossa relação nunca foi das melhores, nunca vivi no mesmo lar que você, ah e como eu queria, como eu sentia inveja da Rafalela porque ela tinha um pai, eu também tinha, mas o meu pai era também pai dela, era também pai de mais 8 crianças e eu me sentia a mais feinha, a mais sem graça, porque eu não me lembro de nenhum elogio vindo de você, eu era só uma uma criança gordinha e sem graça.
Mas apesar disso a infância foi o periodo em que tinhamos a melhor relação, férias era sempre uma delicia,era mesmo muito bom, mesmo quando eu chorava enlouquecidamente querendo voltar pra casa com saudade de mainha.
Você me deu muito, me deu a oportunidade de estudar nas melhores escolas, me deu conforto, roupas legais, financeiramente falando eu não tenho do que me queixar, em quanto você pôde você me deu e eu sou muito grata, mas algumas vezes eu desejei que você não me desse dinheiro algum, mas me desse um colo, me desse de fato um pai, aquele pai...PAI, sabe?
Não você não sabe, porque você também não teve um desses.
Eu precisei muito de você, e hoje eu tenho certeza que você me desconhece, você não sabe nada sobre mim, talvez você só saiba que é meu pai.
Ah meu velho, machucava tanto quando você não atendia meus telefonemas, machucava quando você sumia e voltava com um convitizinho prum almoço, você tentava subornar seu filhos sabia? Você tentava nos sobornar com um almoço num restaurante legal e uma graninha, mas eu não ia pelo almoço nem pela grana, eu ia porque eu adorava dizer na escola: HOJEU EU VOU ALMOÇAR COM MEU PAI, eu adorava dizer pra mim mesma...eu adorava
Mas você também não sabe disso.
Ah meu super-herói velho e cansado, a vida foi tão generosa com você, mas ela também foi muito cruel, e quando é que você vai aprender a ser humilde?
E quando meu pai? Quando é que a gente vai sentar numa mesa pra conversar? Qunado você vem jogar sinuca comigo?
Qual será sua reação ao me conhecer?
Eu preciso de contar um segredo, um segredo que só você não sabe, e quando eu vou te contar?

2 comentários:

  1. Lindo texto, manuh... suas palavras, infelizmente, também podem ser minhas...

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  2. Manuh eu confesso que não sei muito sobre o relacionamento que você teve ou tem com seu pai, mas pelo o pouco que eu sei e na minha concepção você talvez não precise e não sinta necessidade, de contar esse segredo, na verdade acho que você sente vontade de afrontá-lo, afinal tem tantas outras coisas que ele não sabe ao seu respeito, uma coisa á mais não irá fazer a diferença.

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